Através
de nossa história, toda literatura que recomenda "exercícios" durante
a gestação é sempre baseada no "senso comum". Pesquisas, quando
realizadas, nunca concluem exatamente o que ocorre durante o período
gestacional, pois nem médicos, nem pesquisadores, nem as próprias gestantes
querem correr qualquer tipo de risco. Infelizmente, nenhum padrão de exercícios
foi propriamente desenvolvido para gestantes, e alguns trabalhos domésticos são
extremamente árduos do que algumas atividades físicas bem orientadas (BARROS,
1999).
Se,
por um lado, a comunidade médica falha em pesquisas concretas e estabelece
programas pré-natais com bases puramente cientificas, por outro lado os defensores
ferrenhos do esporte promovem programas específicos desprovidos de bases
cientificas, de avaliações clinicas e supervisão médica.
A
única certeza que se tem é a de que nós, profissionais que vamos trabalhar com
gestantes, devemos proporcionar a elas uma atividade física agradável e segura,
respeitando a individualidade e, principalmente, obedecendo regras básicas de
bom senso. Precisa-se ter em mente o processo que acontece durante a gestação e
que provoca profundas alterações metabólicas e hormonais, modificando respostas
às atividades físicas (BARROS, 1999).
De
acordo com ARTAL & WISWELL, (1986) a gravidez provoca na mulher alterações
fisiológicas e psicológicas que merecem ser discutidas. Por volta da 10ª semana
gestacional inicia-se o aumento do volume plasmático, provocada pela retenção
hidrossalina. O aumento da volemia produz um aumento do fluxo cardíaco,
aumentando o volume de ejeção sistólica, e, especialmente a partir do sexto mês
de gravidez, ocorre um aumento da freqüência cardíaca, em torno de 10 a 15 batimentos por minuto,
ocasionado pela queda da resistência periférica.
A
modificação corporal básica que ocorra na gravidez é o aumento uterino. Até,
por volta da 10ª semana, o útero ainda está restrito à cavidade pélvica, mas a
partir daí, seu aumento se evidencia sobre a parede abdominal. Durante a
gravidez ocorre a expansão torácica, pelo relaxamento dos ligamentos
intercostais e ascensão do diafragma pelo crescimento uterino, que resulta no
aumento da capacidade inspiratória, no decorrer da gravidez, em até cerca de
300 ml. Modificações no nível de ventilação por minuto estão relacionadas a um
aumento do volume corrente e da freqüência respiratória (ARNONI, 1996).
Para
HANLON (1999), a modificação postural é um mecanismo compensatório, que tende a
minimizar os efeitos ligados ao aumento de massa e distribuição corporal na
gestante. Por exemplo, a hiperlordose lombar deve-se à distensão dos músculos
da parede abdominal e à projeção do corpo para frente do centro de gravidade.
Devido ao acréscimo do volume uterino no abdome.
Nos
últimos meses de gravidez, as mulheres tendem a projetar os ombros para frente,
arqueando mais que o normal a curva das costas, para encontrar um equilíbrio
postural. Podem aparecer, assim, dores nas costas, pelo excessivo esforço das
fáscias musculares, sendo, portanto, um fator negativo ficar por longo tempo em
pé em posição fixa, ou carregar pesos.
As
articulações dos joelhos e dos tornozelos tornam-se menos estáveis, e as da
coluna vertebral e do quadril alcançam uma mobilidade que, apesar de modesta,
expõe a musculatura dessas regiões a maior tensão.
As
lesões ortopédicas, que ocorrem freqüentemente durante a gravidez podem ser
devido ao hiper-relaxamento ligamentar, como também as modificações no
equilíbrio da mulher. Desse modo, a hiperlordose lombar aumenta particularmente
o risco de hérnia de disco (ROMEN, 1991).
Os
exercícios para gestante deveriam incluir a combinação de atividades aeróbias
envolvendo grandes grupamentos musculares e atividades que desenvolvessem força
de determinados músculos. Normalmente, acredita-se que uma musculatura
abdominal forte possa ajudar no processo de expulsão da criança. A força
muscular dos membros superiores é também muito importante para carregar o bebê,
que aumenta, cada vez mais, o seu peso (BARROS, 1999).
Nas
prescrições iniciais de exercício aeróbio deveriam ser incluídas, no mínimo,
três sessões semanais, com dias intercalados de exercício, cada uma com duração
de 30 a
45 minutos. A intensidade de exercícios empregadas deve manter uma média
estável da freqüência cardíaca numa faixa de 130 a 150 batimentos por
minuto. A freqüência mínima é de três vezes na semana e programados em
diferentes atividades, duração e intensidade. Atividades onde existam contato
físico e chances de queda são desaconselhados (BARROS, 1999).
As
adaptações do organismo ao exercício aeróbio no adulto sadio incluem o aumento
do volume de ejeção sistólica e um aumento do debito cardíaco máximo. O
objetivo desejado para todas essas mudanças é que toda e qualquer intensidade
de exercício constituam um nível relativamente baixo de estresse no estado de
condicionamento, o que seria evidenciado facilmente por uma menor elevação da
freqüência cardíaca (PIRIE, 1989).
No
entanto, na gestante, provavelmente não é o aumento das varias capacidades que
constitui o resultado desejado. Mais especificamente deveria ser a manutenção
do debito sistólico, a capilarização muscular e a capacidade oxidativa da
célula muscular para se contrapor à diminuição dessas capacidades, devido à
redução da atividade diária, regularmente observada durante a gestação.
Há
muito tempo o fortalecimento dos músculos abdominais tem sido recomendado para
a manutenção da postura, para ajudar na fase de expulsão do parto e para
retornar ao aspecto da parte inferior do tronco antes da gravidez. Devido à
grande quantidade de movimentos que requerem os cuidados com a criança, o
aumento de força dos membros superiores pode ser muito útil.
Uma
questão importante para a mulher interessada em continuar um programa de
exercício após a concepção é quanto tempo deve esperar para iniciá-lo. Devido
ao grande estresse fisiológico e psicológico do parto e às mudanças hormonais
que a ele se seguem, geralmente recomenda-se que os exercícios intensos não
sejam realizados antes de uma a duas semanas após o parto. Existem grandes
diferenças individuais, e as regras mais lógicas a serem seguidas são o desejo
da mãe em exercitar-se a sua percepção das respostas fisiológicas quando da
retomada dos exercícios (SKINER, 1991).
MITTELMARK
et al. (1991), referem que, no global, podemos tirar as seguintes
conclusões:
·
Mulheres que se exercitam antes da gravidez, e que continuam a
faze-lo durante a gravidez, tendem a ganhar menos peso e a parir bebês menores
que os de controles.
·
Todas as mulheres, sem levar em conta o nível de atividade física
prévio, diminuem sua atividade física com o progredir da gravidez.
·
Mulheres fisicamente ativas tendem a tolerar melhor a dor do
parto.
E
que são necessárias, para a prática do exercício físico, algumas recomendações:
·
Prescrição médica. Para qualquer atividade física com gestantes
são necessárias sempre as prescrições e avaliações médicas, sem isso o
profissional estará sujeito a correr riscos desnecessários. O médico deverá
especificar as atividades que a gestante não deve executar e a intensidade
ideal para o trabalho.
·
Não objetivar o condicionamento físico, não aumentar a atividade
física de antes da gravidez. Não se deve ter como objetivo o aumento do
condicionamento físico, pois com a gestante ocorre exatamente o inverso: sua
resistência inicial tende a diminuir. O ideal é não aumentar a atividade física
ou mantê-la desenvolvida como antes de engravidar (não deixar para começar a
fazer exercícios somente ao ficar grávida).
·
Realizar exercícios que não levem a fadiga, com duração de no
Máximo 30 minutos de atividade vigorosa, sempre entre 50% e 70% da capacidade
máxima da gestante. Durante a atividade física com as gestantes, o cuidado para
não cansá-la é essencial e deve ser uma preocupação constante do profissional;
a parte mais "forte" da aula (parte aeróbia) deve ser de no máximo
meia hora e a freqüência cardíaca não deve exceder a capacidade média individual
de cada aluna.
·
Evitar o aumento na temperatura corporal (evitando lugares muito
quentes e água no máximo a 32 graus no inverno). Durante a atividade física, a
temperatura do corpo tende a subir; se o ambiente ou a água estiverem muito
quentes poderá ocorrer na gestante uma hipertermia (excesso de calor). Além
disso, deve-se evitar roupas muito pesadas ou quentes. Ressalta-se que as
diferenças ambientais e climáticas também devem ser levadas em consideração,
bem como a época do ano: inverno ou verão. Em São Paulo , por exemplo,
a temperatura da água pode ser mais elevada, por volta dos 31 graus no inverno
e 29 no verão; já no Nordeste, deve ser mantida em no máximo 28 graus no
inverno e 26 no verão.
·
Evitar a perda hídrica durante a atividade física (bebendo água
antes, durante e após as atividades).
·
Realizar as atividades de 2 a 3 vezes por semana, no mínimo, com duração
de no máximo 90 minutos.
·
Evitar exercícios em gestantes que tenham riscos comprovados pelo
obstetra responsável. Por isso, a necessidade da prescrição médica já
mencionada.
·
Parar as atividades assim que a gestante apresentar algum sintoma
fora do comum. A gestante deve ser orientada a respeitar seu próprio corpo e
acatar a posição do médico com relação às atividades liberadas. Qualquer
sintoma incomum ou fora dos padrões normais deve ser imediatamente comunicado
pela gestante ao profissional que deve aconselhá-la a fazer essa comunicação
imediatamente ao médico.
·
Estar sempre controlando a freqüência da gestante, através de
equipamentos específicos. Caso não possa contar com essa tecnologia, o
profissional deve controlar as gestantes pela tomada constante da freqüência,
pela própria aluna ou pelo Percept Test (observação do rosto da aluna,
vendo se está com expressão cansada ou assustada). Temos ainda o Talking
Test: por meio de uma ou duas perguntas, o profissional avaliará pela forma
da resposta se a gestante está ofegante ou não.
Os
exercícios vão, necessariamente, auxiliar para que o parto mais fácil,
contribuindo de várias maneiras:
·
melhora na circulação sangüínea;
·
ampliação do equilíbrio muscular;
·
redução do inchaço;
·
alivio nos desconfortos intestinais;
·
diminuição de câimbras nas pernas;
·
fortalecimento da musculatura abdominal, e
·
facilidade na recuperação pós-parto.
Objetivos
·
Verificar a quantidade de profissionais médicos que indicam
atividades físicas as suas pacientes gestantes.
·
Relacionar as atividades físicas sugeridas por estes
profissionais.
·
Verificar qual o tipo de atividade física recomendada pelos
profissionais médicos as gestante.
·
Quantificar os benefícios proporcionados pela atividade física em
gestantes.
·
Descobrir até que ponto a atividade física não interfere no
desenvolvimento do feto.
Conclusões
·
Os profissionais médicos, que tratam das mulheres no período de
gestação, estão extremamente conscientes dos benefícios do exercício físico
neste período.
·
Que a atividade física, neste período, auxilia para que as
mulheres não ganhem muito peso, possibilitando um retorno mais rápido ao peso
de antes do período de gestação.
·
Existe a necessidade de se formar profissionais, da área de
Educação Física, especializados para o trabalho com estas mulheres.
·
Exercícios físicos, na maioria das vezes, precisam ser modificados
para sua aplicação em mulheres, principalmente no período de gestação.
Bibliografia
·
ARNONI, A.S.; ANDRADE, J.; ESTEVES, C.A,. Tratamento com
métodos intervencionistas nas gestantes - escolha do momento. Cap. 118, p
1038-42, SOCESP Cardiologia 2ª ed, Atheneu, São Paulo, Souza. AGMR e Mansur
A.J., 1996.
·
ARTAL, R.; WISWELL, R.: Exercícios na gravidez, Manole,
1986.
·
BARROS.T.L; GHORAYEB, N. Exercícios, Saúde e Gravidez - in: O
Exercício - Preparação Fisiológica, Avaliação Médica, Aspectos Especiais e
Preventivos. Ed. Atheneu, 1999.
·
HANLON, T.W. Ginástica para Gestantes - O Guia Oficial da YMCA
para Exercícios pré-natais. Manole, 1999.
·
MITTELMARK, R.A.; DOREY, F.J.; KIRSCHBAUM, T.H.. Effect of maternal exercise on pregnancy outcome. In: Exercise in
pregnancy. 2ª ed, Williams & Wilkins, Baltimore, p. 9-29, 1991.
·
PIRIE, L.B.; CURTIS, L.R. El deporte durante el embarazo. Buenos
Ayres, Editorial Medica Panamericana, 1989, 220p.
·
ROMEN, Y.; MASAKI D.I.; MITTELMARK, R.A. :
Physiological and endocrine adjustment to pregnancy. In Exercise in
pregnancy. 2ª ed, Williams & Wilkins, Baltimore, p 9-29, 1991.
·
SKINER, J.S. Prova de Esforço e Prescrição de Exercício Físico
para casos específicos - Bases Teóricas e Aplicações Clinicas. Revinter,
1991.
Que blog bacana, informação nunca é demais... Parabéns pela ideia Gisa. Bjs
ResponderExcluirBom dia Ariani, que bom que gostou, a partir de agora sempre vão ter dicas bem legais, receitas pré e pós treino, treinos, resultados etc...
Excluirsuper beijo
Gisa